Celso Japiassú, poeta e publicitário – Rio, 21/06/76.
Velho Torres:
Tracei Essa Terra neste prolongado fim de semana que passou. Ou melhor, fui envolvido pelo livro a partir do primeiro parágrafo. Os dois ou três capítulos que eu já conhecia antes de publicado o livro não me tinham dado a idéia do romance inteiro, como vi agora nesta primeira leitura. Pretendo outras leituras, porque a riqueza do livro não será nunca apreendida integralmente lendo-se uma vez só. E esta é uma carecterística dos grandes livros.
A densidade impressiona e as personagens estão construídas com uma precisão maravilhosa. Nelo e o pai principalmente. Totonhim, como narrador, vai crescendo no desenrolar da história até chegar na sua estatura, em que se misturam o arauto e o vivente. Cada uma das personagens me pareceu ser um universo dramático à parte, independente das outras. Não é apenas a história do Junco e sua sina. É tambem e muito mais a tragédia pessoal das personagens que desfilam pelo livro, marcantes e exemplares. História dramática e subjetiva de uma pequena cidade nordestina, é a saga de uma família, é a triste história de nós todos emigrados, é uma bela teia de destinos cruzados que não se ligam.
Queria te dizer também da minha discordância de uma crítica que li não me lembro aonde. O cara elogia o livro mas faz discretas alusões à técnica do autor, que desconheceria certos macetes de narração. Acho o livro muito bom, inclusive tecnicamente. Ou o cara está querendo que você escreva tendo como modelo o romance do século XIX? Era muito bom, mas Stendhal quebraria a cara escrevendo sobre o Junco. Tenho a impressão de que Essa Terra está escrito montado em narrativa tecnicamente correta, usando com segurança as inversões espaço-temporais, não confunde o leitor com pedantismo idiota, nem quer dar “uma porrada na literatura brasileira”.
Enfim, o que eu queria te dizer é que gostei do livro. Quando acabei de ler, no sábado de manhã, fechei o volume, olhei mais uma vez a capa e pensei para mim mesmo – não é que esse puto escreveu uma obra prima?
Receba um abraço, com carinho. Votos de boa carreira para Essa Terra. Para você, muitos e muitos anos de vida produtiva, porque ainda hás de escrever muito para ajudar os teus leitores a viver com mais dignidade, ou seja: viver sem esquecer a grandeza e a miséria da condição humana.