Pelo Fundo da Agulha (2006) – O GLOBO Luciana Ackermann

RIO – A hora de pendurar as chuteiras, é um momento delicado para muitas pessoas. Este momento de mudança, com os dilemas de um homem diante da aposentadoria é o tema do novo livro de Antônio Torres , de 66 anos, “Pelo fundo da agulha”. Nele, o personagem principal Totonhim refaz a trajetória de sua vida e diversas reflexões sobre a hora de parar. O livro fecha a trilogia iniciada com o romance “Essa Terra”, de 1976, passando pelo “O cachorro e o lobo”, lançado em 1997.

Totonhim é um nordestino, que, como muitos, para melhorar de vida mudou-se para São Paulo. Lá, estudou muito, passou em um concurso público para uma vaga no Banco do Brasil, onde fez sua carreira. Formou-se em administração de empresas. Dedicou toda a sua vida ao banco. Nos últimos dois anos, foi gerente da área de recursos urbanos do banco. Em seu dia-a-dia, já havia se acostumado a ouvir as queixas e os lamentos daqueles que estavam se desligando do banco para se aposentar. Mais tarde, Totonhim mudou de lado e também precisou deixar o banco.

É nesse contexto que Torres desenvolve as profundas reflexões de Totonhim em sua primeira noite de sua aposentadoria. Para compor o personagem e todos os seus conflitos, Torres explica que, além da própria intuição, também fez diversas pesquisas de campo com profissionais da área de recursos humanos e entre aposentados. Nelas, encontrou casos de pessoas que gostam de viajar, fazer cursos, descansar. Outros que têm a capacidade de se autogerenciar, investem em algum negócio, e, aqueles que se sentem abandonado, sem saber o que fazer com o tempo livre.

Um dos relatos mais curiosos é o de um senhor aposentado que dia sim, dia não vestia seu terno para visitar o antigo trabalho e tomar um cafezinho com os colegas. No entanto, ele não ia embora e ficava dando palpites e aborrecendo os colegas.

– Para muitos a primeira angústia é a perda do crachá, que simboliza a perda dos vínculos com a empresa. Nesse momento perde-se um mundo de referências, a vida social, as festinhas, os amigos, os puxa-sacos, as estagiárias. Enfim, há um vínculo emocional entre o homem e a empresa, afirma Torres.

Para o autor, a alternativa para não sentir tal angústia é procurar ter outras atividades além da vida profissional, como a prática de esportes, ter uma vida social cultural, como visitar exposições, ir aos cinemas, aos lançamentos de livros etc. Ele, que está viajando o país para lançar o livro, diz que vários leitores o abordam para dizer que ficaram emocionados como o assunto é abordado.