Manejo estético da língua com uma densidade poética

O Globo, Rio de Janeiro – 01/11/1981
Virgílio Moretzsohn Moreira

Antônio Torres nos dá, pela Editora Ática, Adeus, Velho, o seu quinto livro. Nas mãos do leitor a pentalogia desse escritor baiano que compõe o seu gesto de insubmissão ao mesmo tempo que escreve a sua palavra.

Nesse seu último trabalho, novidade: a densidade poética. E uma outra: o manejo estético da língua. De Faulkner para frente (autor da predileção de Antônio Torres), o maior avanço que se teve na construção ficcional foi a fragmentação da narrativa, recurso que o baiano usa desde Os homens dos pés redondos.

Adeus, Velho é uma história de uma família do interior da Bahia que vive em situação difícil, afastada dos bens civilizatórios. No meio dela, emerge Virinha, que é repudiada pela família após ser desvirginada. Indo para a cidade (como também aconteceu com o autor), ela conquista seu espaço. Seus irmãos – são aos milhares – chegaram e deschegam, formando um complexo de amor e ódio fabuloso, uma esteira viva de desarranjos emocionais que seguram o leitor. A verdadeira literatura é aquela que provoca, condiciona e deflagra e que Tolstoi chama de “contágio psicológico”, e esse está bem presente na trama de Torres.

No romance Adeus, Velho o presente é apenas a extremidade do passado, como queria Bergson. Os personagens vão e voltam, e nesse caminhar, que a ponto como o mesmo percorrido por Hesse, tudo se dá. Virinha é, ao mesmo tempo flechada a amada pelos irmãos, numa curiosa sistematização freudiana, muito antiga, muito atual.

Logo no início do livro, exatamente na pagina 11, um momento de beleza poética: ”Uma nesga de terra reclinada, inclinada, uma cama feita pelas chuvas e agora oferecida a eles dois”. Arrebentadas as costuras do mundo rural, Torres desembarca no urbano. Mas isso, talvez, seja matéria para o 6º romance.